02/12/09

OS LUSÍADAS

A epopeia portuguesa por excelencia, Os Lusíadas, de Luis Vaz de Camões, foi publicada en 1572 e constitúe a máis grande obra da literatura clásica portuguesa.

Caminho percorrido pela expedição de Vasco da Gama. Fonte: pt.wikipedia.org


Narra en forma de poema o descubrimento da vía marítima cara a India por Vasco da Gama, que arranca así:


1 As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

2 E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

3 Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.


Camões defende que se un pobo como o portugués é quen de acadar tal fazaña, é así porque a historia do pobo portugués é a historia dun pobo glorioso. Así, Os Lusíadas convírtese nunha obra a través da cual podemos coñecer boa parte da historia de Portugal, de Luso a Viriato, Afonso Henriques e o nacemento da nación portuguesa, as batallas de Ourique e Aljubarrota, e a expansión marítima de Portugal, da que Vasco da Gama é o seu maior expoñente.

Mais se hai un episodio da historia de Portugal cantado un milleiro de veces, que constitúe un dos versos máis recoñecidos de Os Lusíadas, e que está tamén íntimamente relacionada coa historia de Galiza e os intentos da súa nobleza por integrarse en Portugal durante o século XIV, é a tráxica historia de Inés de Castro.

Inés de Castro. Fonte: pt.wikipedia.org


Este é un extracto da traxedia de Inés de Castro contada por Camões:

120 «Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
Nos saüdosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

121 «Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.

122 «De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

123 «Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra ũa fraca dama delicada?

124 «Traziam-a os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saüdade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,

......

132 «Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

133 «Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia!
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes!

134 «Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.

135 «As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores!


De Inés de Castro falaremos próximamente cando reiniciemos os artigos 'La Coruña de toda la vida' sobre a historia de Galiza nos séculos XIV e XV. En canto a Camões e a súa literatura, tedes á vosa disposición Os Lusíadas, íntegramente, na páxina web do Instituto Camões:

http://cvc.instituto-camoes.pt/bdc/literatura/lusiadas/

Disfrutádeo.

4 comentários:

  1. fonte de inspiración de "Os Eoas" de Pondal

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  2. Tas posto, carallo! Mr. Charlie, voulle ter que encargar a vostede que vaia redactando un artigo sobre as Irmandades da Fala e a Xeración Nós, que sei eu que vostede anda posto no tema, que síii...

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  3. Um pequeno contributo com este belíssimo soneto de Camões:

    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
    Muda-se o ser, muda-se a confiança:
    Todo o mundo é composto de mudança,
    Tomando sempre novas qualidades.

    Continuamente vemos novidades,
    Diferentes em tudo da esperança:
    Do mal ficam as mágoas na lembrança,
    E do bem (se algum houve) as saudades.

    O tempo cobre o chão de verde manto,
    Que já coberto foi de neve fria,
    E em mim converte em choro o doce canto.

    E afora este mudar-se cada dia,
    Outra mudança faz de mor espanto,
    Que não se muda já como soía.

    Este soneto foi muito bem musicado por José Mario Branco (cantor da resistência anti-fascista).
    Um abraço
    João

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  4. Acho fala desta musica, João:

    http://www.youtube.com/watch?v=tTTdJ5FM1mY

    Moito obrigado pela recomendação.

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